De consultório em consultório em busca de uma solução, aviando receitas de analgésicos, antiespasmódicos e antidepressivos, ela vai consumindo sua esperança de alivio de uma dor que se arrasta há quatro longos anos. Esta é a peregrinação de uma mulher que tem dor crônica pélvica.
A dor crônica na pélvis, “é uma dor intermitente- vem de vez em quando, às vezes contínua, de duração superior a seis meses, não é cíclica, não é limitada ao período menstrual ou à relação sexual e não se associa à gestação”.
Na sua grande maioria está associada a problemas do trato urinário e gastrintestinal e por último ao ginecológico.
Dentre os fatores de risco listados pelos estudiosos encontram-se: abuso de drogas, uso de álcool, abortamento, fluxo menstrual intenso, doença inflamatória pélvica, cesariana prévia, abuso físico ou sexual e existência de co- morbidade psicológica.
Além do sofrimento físico e psicológico da mulher, a dor pélvica crônica tem impacto negativo na vida familiar da pessoa em questão, quando essa pessoa torna-se queixosa, estressada, mal humorada e de convívio difícil. Todos na família sofrem este transtorno, além de estende-se também a perdas laborais e ao ciclo social.
Não é incomum encontrarmos no consultório de ginecologias histórias de dores, queixumes e a inconveniente dor que nunca passa e que caminha no abdômen.
Uma mulher passou anos a fio de sua vida amargando uma culpa de uma relação fortuita, ocasional, o deslize de uma única vez ( segundo a mesma). Sentia uma dor freqüente no abdômen inferior à direita (fossa ilíaca direita), ninguém descobria; exames e mais exames, cirurgia investigatória, medicações e a dor persistia, aparecendo sempre no mesmo lugar de vez em quando. A relação da dor com o fator psicológico aparece em uma anamnese mais detalhada; havia tido uma paixão, uma única vez se relacionou com um forasteiro de sua cidade. Passada aquele felicidade momentânea uma forte culpa a invadiu, angústias e inquietações a atormentavam: E se descobrissem? Se seus pais a vissem como uma perdida?Que arrependimento! Somatizou de tal forma, que a dor se instalou como o acusador invisível sempre a julgar aquele deslize do passado. ( Somatizar – vem de somatização, que é o desenvolvimento de determinada doença por causa de um problema emocional e, ou depressão)
A mente humana é um labirinto inexpugnável, tantas surpresas por trás de um semblante, quantas histórias se escondem na linha da vida de uma pessoa.
As crenças de uma pessoa são importantes na análise da história de sua dor psicológica ou física. O contexto em que se insere - o ciclo familiar e social. Os padrões culturais são tão fortemente arraigados que moldam a personalidade de cada um, impactando de forma positiva ou negativa. Mudar a forma de pensar demanda esforço pessoal e determinação e às vezes a pessoa se sente fragilizada diante das mudanças. Auxiliar a pessoa a buscar as respostas além da expressão física de sua dor é o desafio do profissional que atende a mulher com este sintoma que parece vago, mas que pode retratar um grito interior.
A terapêutica da dor crônica inclui desde o uso de antidepressivos, analgésicos, terapias específicas de cada patologia, exercícios físicos, psicoterapias e cirurgias.
A dor é um alarme de algum dano tecidual, mas pode ser traduzida também como uma queixa, um diálogo interno do organismo que precisa ser ouvido.
Fonte: Ginecologia no CONSULTÓRIO- Corleta, Capp et all. 2008